quarta-feira, 7 de abril de 2010

Pesadelo no cinema

Por: Kiara Guedes
Não, “pesadelo no cinema” não é o nome de nenhum filme em cartaz, e mesmo que fosse, não me parece um título muito interessante, com esse nome, mais parece um filme B, no máximo.
Mas pesadelo no cinema não é tão difícil assim de acontecer. Especialmente se você mora numa cidade onde os dois únicos cinemas já são os próprios, pesadelos… Ir ao cinema só é considerado mesmo em caso de falta de opções, o que não é muito difícil imaginar com o afirmado acima. Aquela animação “oba! Hoje vou ao cinema” só rola mesmo quando é aquele filme, com aquele ator/atriz, daquele aquele diretor e aquele roteirista e é aquilo que você estava esperando, fora isso, só puro tédio, vontade de sair de casa a todo custo, briga com namorado(a) ou ainda (como faço) “aquele tempinho pra ficar sozinha”, eu por exemplo, adoro ir ao cinema sozinha, e vai ficar fácil descobrir porque nos próximos parágrafos.
Passada essas considerações a cerca da inevitável irritação de ir ao cinema nessas circunstâncias (leia-se: em Macapá City, onde moro) irritante mesmo são os tipos que encontramos lá. Seria trágico, se não fosse cômico, ou o contrario, que é igualmente verdadeiro. E há muitos tipos irritantes…
O Atrasado, que fica em pé procurando um lugar, dois se possível, pra ele e pra tchutchuca dele, pede licenças a cada 3 segundos e fica perguntando se perdeu muito do filme. – Grau de irritação: 5. Freqüência maior: Em comédias românticas. Mas esse nem chega a irritar tanto, pois pode acontecer com qualquer um.
O Abusado, que coloca o pézão no banco da frente, esse já sobe no grau de irritação uns bons pontos. – Grau de irritação: depende de onde ele colocou o pé. Freqüência maior: Todos os gêneros. O Abusado se desdobra em vários outros tipos irritantes. O grau máximo que um Abusado pode chegar é O Cara do celular.
O Cara do celular brinca com a vida, porque sei que todos vocês, assim como eu já quis matar um! O Cara do celular é colecionador de adjetivos: sem noção, mal educado, ridículo, ignorante e por aí vai.
O falador, foi pro cinema pra bater papo, ou seja, confunde-se também com o Sem noção. – Grau de irritação: depende também se ele sentou do seu lado ou não, vai de 5 a 10. Se esse for abusado ou ainda exibicionista, querendo que todos no cinema o escutem,pode quebrar o termômetro de irritação.

Tem também a molecada que grita em cenas de sexo principalmente (mas aí o risco é seu em escolher uma sessão lotada de adolescentes). Grau de irritação: 7-9. Freqüência: Comédias românticas, filmes de ação, sábados, quando os pais o deixam sair.
Ah, sim, os Apaixonados, que de tão apaixonados não se conformam em se agarrar no cinema, o que acho absolutamente “digno!”, mas fazer barulho beijando é demais. Grau de irritação: 6. Frequencia: Depende do tempo de namoro, se for o primeiro dia, sai de baixo que pode chegar a 10!
Existem muitos, e como falei, eles ainda se desdobram em mais e mais, tem ainda o comilão, o roncador e etc, etc e etc e tals. Mas nenhum desses me irrita mais do que aquele que chamo de irritador Mor: O narrador!
O narrador é o cruzamento do falador, aprendiz de vidente charlatão com o Sem noção (este último encontrado não só no cinema, e que vem povoando o mundo com uma rapidez incrível!).
O pior é que o Narrador fez um pacto com Murphy e o combinado foi: Todas as vezes que a Kiara for ao cinema, ela escolherá o acento ao meu lado. E assim se deu. Tenho a sorte (a má) de sentar sempre, eu digo sempre, do lado do Narrador. Antes eu tinha até aliado, mas hoje meu marido nem se irrita mais, ele ri, ri da minha cara, sabe que Murphy não me perdoa mesmo!
O filme rola e alguém pega uma faca e o narrador diz: “Ele pegou a faca!”, vai rolar uma perseguição e ele: “Olha, o carro em alta velocidade”, A muher se aproxima do carinha e no fundo a trilha é romântica e ele solta: “Eles vão se beijar” e quando isso acontece, ele não se contém: “Não disse!”. E ele não pára. O protagonista morre e ele diz num tom de triunfo: “ele morreu!”. “Eles estão brigando”, “A casa é mal assombrada”, “O carro é o modelo tal, ano tal”…
E eu, eu sigo morrendo. Morrendo de vontade de matar a criatura. Dessa forma, lembrei que tinha um blog e que nele posso mandar também, recados, e aqui vai um pra você:
Querido Narrador, cinema é uma arte áudio-VISUAL. Isso significa dizer que, a comunicação é expressa através da utilização de componentes visuais (imagens, signos…) e sonoros (voz, musica), ou seja, tudo o que pode ser ao mesmo tempo OUVIDO e PRINCIPALMENTE VISTO! Seu desserviço é completamente dispensável e nunca precisado.
Sugiro que segure seus instintos, pois vivemos em sociedade, e essa mesma sociedade me diz que também tenho que segurar os meus, que não posso estrangulá-lo, nem usar de nenhum outro método para assassiná-lo. E o pior é que como meus pais me programaram para ser educada, nem dar uma bronca estou apta. Mas…
Pode ser que o meu “Dia de fúria” chegue, e aí você não estará a salvo. Mas não se preocupe, não haverá sangue jorrando pra todos os lados até empoçar o cinema, pois embora goste demais de matar (em meus pensamentos) no estilo “Kill Bill”, prometo que o mato com o sabre de luz do marido (sim, ele mata na versão jedi). Assim, posso parti-lo no meio e ao mesmo tempo já cauterizar o corte, vez que tenho muito apreço pelos demais freqüentadores normais do cinema, que gostam de cinema e não querem ter seu filme atrapalhado nem por você, nem pelo seu sangue.

Beijo SE liga!


Comentário meu: Penso da mesma forma Kiara, parabéns pelo texto.

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